Universidade Federal
De Santa Catarina
Centro de Comunicação e Expressão
Curso: Design
Sociologia e Cultura
Professor: André Luiz Bianco
Aluno: Ryan Vandresen Dacoregio
Centro de Comunicação e Expressão
Curso: Design
Sociologia e Cultura
Professor: André Luiz Bianco
Aluno: Ryan Vandresen Dacoregio
Semestre:
2012.2
Mcdonaldização,
Modernidade, Indústria Cultural e Design
O
objetivo desse texto é expor um breve estudo sobre o processo de
Mcdonaldização da Industria Cultural e quais as relações disso
com o conceito de Modernidade e o Design. Essa é uma discussão
profunda e densa em informações que só será explorada nesse
trabalho de forma superficial e introdutória, apresentando os
conceitos necessários para uma compreensão inicial dos temas. Assim
sendo, deve-se começar com os termos apresentados: Modernidade,
Indústria Cultural e Mcdonaldização.
Anthony Giddens, em seu livro “Modernidade e Identidade”, usa o termo modernidade para referir-se “às instituições e modos de comportamento estabelecidos pela primeira vez na Europa depois do feudalismo, mas que no século XX se tornaram mundiais em seu impacto”. Dentre as várias características da modernidade destacam-se, de acordo com o autor, “o uso generalizado de força material e do maquinário nos processos de produção”; o capitalismo; a vigilância; a ascensão da organização (“o controle regular das relações sociais dentro de distâncias espaciais e temporais indeterminadas”) e o extremo dinamismo: “o mundo moderno”, como diz o autor, “é um 'mundo em disparada': não só o ritmo da mudança social é muito mais rápido que qualquer sistema anterior, mas também a amplitude e a profundidade com que ela afeta práticas sociais e modos de comportamento preexistentes são maiores”. As explicações para essas e outras características podem ser compreendidas por conhecimentos propostos pelo próprio autor em seu livro (conceitos como “a separação de tempo e espaço”, “mecanismos de desencaixe” e “reflexividade institucional” por exemplo), mas estes só serão esclarecidos nesse texto caso haja profunda necessidade.
Anthony Giddens, em seu livro “Modernidade e Identidade”, usa o termo modernidade para referir-se “às instituições e modos de comportamento estabelecidos pela primeira vez na Europa depois do feudalismo, mas que no século XX se tornaram mundiais em seu impacto”. Dentre as várias características da modernidade destacam-se, de acordo com o autor, “o uso generalizado de força material e do maquinário nos processos de produção”; o capitalismo; a vigilância; a ascensão da organização (“o controle regular das relações sociais dentro de distâncias espaciais e temporais indeterminadas”) e o extremo dinamismo: “o mundo moderno”, como diz o autor, “é um 'mundo em disparada': não só o ritmo da mudança social é muito mais rápido que qualquer sistema anterior, mas também a amplitude e a profundidade com que ela afeta práticas sociais e modos de comportamento preexistentes são maiores”. As explicações para essas e outras características podem ser compreendidas por conhecimentos propostos pelo próprio autor em seu livro (conceitos como “a separação de tempo e espaço”, “mecanismos de desencaixe” e “reflexividade institucional” por exemplo), mas estes só serão esclarecidos nesse texto caso haja profunda necessidade.
A
palavra “mcdonaldização” vem de um restaurante Norte-Americano
de comida rápida, chamado McDonald's, que tornou-se mundialmente
conhecido graças à sua organização interna, que lhe permitiu uma
rápida ascensão no comércio. O significado do termo, como propõe
George Ritzer, é “o
processo mediante o qual os princípios que regem o funcionamento dos
restaurantes de comida rápida tem dominado um número cada vez mais
amplos de aspectos da sociedade norte americana, assim como do resto
do mundo”.
Logo já se nota que se trata de um sistema com muitas similaridades
ao ideal moderno: a cultura da comida rápida (que deixou de ser
exclusividade de restaurantes e passou a ser modelo para diversas
empresas ao redor do mundo) é um reflexo evidente do dinamismo da
sociedade moderna. O alto controle das atividades internas da
empresa, baseado nos quatro pilares da Mcdonaldização
(“Eficiência”, “Quantificação”, “Previsibilidade” e
“Controle”) evidenciam a já mencionada ascensão da organização.
Essas duas características, aliás, se reforçam mutuamente: a
eficiência
busca o melhor método para a execução de uma tarefa, de modo que
leve menos tempo para ser realizada e poupe o máximo de recursos
possíveis; a quantificação
auxilia na organização com o melhor controle de informações, a
previsibilidade
alimenta os dois aspectos anteriores e o controle
(os empregados devem ser padronizados, normalizados, e, tanto quanto
possível, substituídos por tecnologias não-humanas) reflete a
característica da modernidade de não só controlar rigidamente a
dinâmica social dentro da empresa como o grande investimento em
maquinário no processo de produção, como já foi visto.
Após
a explicação sobre a Indústria Cultural, veremos como ela passou
por um processo de intensa mcdonaldização.
A indústria cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura de massa são termos que se confundem muito fácil, por geralmente estarem fortemente associados uns aos outros. Eles não são, no entanto, sinônimos, nem obrigatoriamente interdependentes. Um bom exemplo disso é dado por Teixeira Coelho em seu livro “O Que é Indústria Cultural”. Trata-se da relação entre a cultura de massa e os meios de comunicação de massa. Em seu raciocínio, explica que o surgimento da imprensa caracterizava a criação de um meio de comunicação de massa, mas isso não significava realmente que já existia uma cultura de massa, realmente: a imprensa poderia reproduzir livremente os textos, mas apenas uma elite letrada saberia lê-los. Para o meio de comunicação de massa tomar forma, é necessário que a indústria cultural não esteja estabelecida em um sistema elitizado, onde poucos possuem acesso ao meio de comunicação. E nem isso é garantia do surgimento de uma cultura de massa: tal cultura tomará forma quando, pelo meio de comunicação de massa, um produto destinado a esse público específico for veiculado. No exemplo de Teixeira Coelho, a Indústria Cultural tomaria forma com os primeiros jornais e a cultura de massa exigiria deles certos produtos, como o romance de folhetim, disposto em simples episódios periódicos; o teatro de revista (versão simples do teatro); a opereta (idem para a ópera); o cartaz (massificação da pintura) e outros que seguissem princípios parecidos.
A indústria cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura de massa são termos que se confundem muito fácil, por geralmente estarem fortemente associados uns aos outros. Eles não são, no entanto, sinônimos, nem obrigatoriamente interdependentes. Um bom exemplo disso é dado por Teixeira Coelho em seu livro “O Que é Indústria Cultural”. Trata-se da relação entre a cultura de massa e os meios de comunicação de massa. Em seu raciocínio, explica que o surgimento da imprensa caracterizava a criação de um meio de comunicação de massa, mas isso não significava realmente que já existia uma cultura de massa, realmente: a imprensa poderia reproduzir livremente os textos, mas apenas uma elite letrada saberia lê-los. Para o meio de comunicação de massa tomar forma, é necessário que a indústria cultural não esteja estabelecida em um sistema elitizado, onde poucos possuem acesso ao meio de comunicação. E nem isso é garantia do surgimento de uma cultura de massa: tal cultura tomará forma quando, pelo meio de comunicação de massa, um produto destinado a esse público específico for veiculado. No exemplo de Teixeira Coelho, a Indústria Cultural tomaria forma com os primeiros jornais e a cultura de massa exigiria deles certos produtos, como o romance de folhetim, disposto em simples episódios periódicos; o teatro de revista (versão simples do teatro); a opereta (idem para a ópera); o cartaz (massificação da pintura) e outros que seguissem princípios parecidos.
Teixeira
Coelho afirma em seu livro “O Que é Indústria Cultural” que a
Revolução Industrial, juntamente do surgimento de uma economia
baseada no consumo, foram os responsáveis pela indústria
cultural,
pelos meios de comunicação
de massa
e pela cultura de massa. Os
três conceitos, tão diferentes mas tão fáceis de confundir,
compartilham a mesma intensa ligação com o desenvolvimento
tecnológico que deu origem à modernidade: são todos consequências
da industrialização. Eis um trecho do livro explicando a questão:
É esta
[a industrialização],
através das alterações que produz no modo de produção e na forma
do trabalho humano, que determina um tipo particular de indústria (a
cultural) e de cultura (a de massa), implantando numa e noutra os
mesmos princípios em vigor na produção econômica em geral: o uso
crescente da máquina e a submissão do ritmo humano de trabalho ao
ritmo da máquina;a exploração do trabalhador; a divisão do
trabalho. Estes são alguns dos traços marcantes da sociedade
capitalista liberal, onde é nítida a oposição de classes e em
cujo interior começa a surgir a cultura de massa.
Existem
muitos mais fatores a serem considerados em relação ao
funcionamento da Industria Cultural, mas as já expostas são
suficientes para prosseguir com o texto. Agora que já compreendemos
superficialmente os três conceitos apresentados, é possível
concluir que, dada a constante influencia e implantação de máquinas
no processo de crescimento da indústria cultural, que ela é
explicitamente parte do contexto da modernidade (vide “o
uso generalizado de força material e do maquinário nos processos de
produção”),
mas a influência não se detém apenas nesse aspecto: a dinamicidade
crescente da sociedade levou as empresas de entretenimento à
necessidade de uma organização interna correspondente a essa
velocidade, o que resultou na mcdonaldificação de grande parte das
empresas ou, quem sabe, da Indústria Cultural como um todo. A
tendência de usar o método de organização interna dos
restaurantes de comida rápida alcançou também a própria indústria
do entretenimento, já que toda a sociedade se comportava cada vez
com mais velocidade. Esse processo de mcdonaldização ganhou tanta
força que ultrapassou o modernismo e o contexto da revolução
industrial, passou pelo pós-modernismo e continua agindo até hoje,
em camadas cada vez mais sutis da indústria cultural, dos meios de
comunicação e da própria cultura: não só o processo de produção
tecnológica ficou mais acelerado, como os próprios processos de
comunicação tornaram-se mais rápidos, o que determinou a
necessidade de processos de produção de conteúdo mais eficientes –
ao ponto de trabalhar praticamente em tempo real. Não apenas isso: o
próprio conteúdo divulgado pelas mídias, aquilo que representa a
cultura de massa, está cada vez mais sendo projetado não só para
ser mais rapidamente “fabricado”, mas também para ser mais
rapidamente lido e consumido pelo público, que deseja receber
informações de forma cada vez mais acelerada, com cada vez mais
facilidade.
Aí
entra a figura do designer, o projetista, que trabalha nos códigos a
serem usados pela indústria, que devem transmitir cada vez mais
informação da forma mais compacta, eficiente e simplificada
possível, para que seja facilmente veiculada e facilmente recebida
pelo publico: marcas, embalagens e cartazes cada vez mais
minimalistas, representando ideias complexas com poucos traços ou
manchas, melodias/jingles/canções cada vez mais simples, com poucas
notas , feitas para serem facilmente aprendidas e dificilmente
esquecidas, a disputa por espaços mais visíveis para a exposição
de suas marcas, sejam espaços físicos ou espaços virtuais. E esse
processo de mcdonaldificação massiva da Indústria Cultural, dos
seus níveis mais gritantes aos seus níveis mais sutis, não dá
sinais de que vá parar: junto da exigência cada vez mais ferrenha
por trabalhos mais rapidamente executados, mais surgem ferramentas
artificiais para realizá-los. Um exemplo disso é um software
“gerador de logomarcas”, criticado por alguns profissionais da
área, por ser uma ferramenta vazia da técnica e do estudo do
projetista. Independente de julgamentos, uma coisa é certa: uma
ferramenta como essa representa um dos quatro pilares da
mcdonaldização: o controle
– os empregados devem ser
padronizados, normalizados, e, tanto quanto possível, substituídos
por tecnologias não-humanas,
e o fato de George Ritzer ter proposto, em publicações posteriores
ainda a respeito de mcdonaldização, um modelo de oposição à
tendência, e Teixeira Coelho começar seu livro destacando a ligação
das discussões sobre Indústria Cultural, ética e potencialidades e
projetos humanos, demonstra que é necessário o estudo aprofundado
dessas questões, pois no momento atual a tendência é a continuação
do processo que, em níveis cada vez maiores e abrangendo cada vez
mais áreas mais sutis do cotidiano das pessoas, contribui para dois
efeitos que, de acordo com Teixeira Coelho,
merecem uma atenção
especial: a reificação (ou transformação em coisa: a
coisificação) e a alienação. Para essa sociedade, o padrão maior
de avaliação tende a ser a coisa, o bem, o produto; tudo é julgado
como coisa, portanto tudo se transforma em coisa — inclusive o
homem.